Equador: entre a paralisação e a mentira

ATUALIZAÇÃO: Após quatro dias consecutivos de mobilizações e paralisações em vários setores do Equador, o governo iniciou uma ofensiva midiática, política e judicial contra os manifestantes.

Após quatro dias consecutivos de mobilizações e paralisações em vários setores do Equador, o governo iniciou uma ofensiva midiática, política e judicial contra os manifestantes. Além das ameaças de acusação por terrorismo contra aqueles detidos no contexto dos protestos sociais, soma-se agora o fechamento de meios de comunicação comunitários.

Nessa ação contra a liberdade de informação, na manhã do dia 24, o Movimento Indígena e Campesino de Cotopaxi anunciou a “interrupção temporária de seu sinal” por ordem do Executivo, sob a alegação de “prejudicar a segurança nacional”. O meio de comunicação vinha cobrindo e reportando desde o início os ataques das forças repressivas do Estado contra a população que se manifesta pacificamente.

Por outro lado, a Aliança de Organizações pelos Direitos Humanos informou que, até 23 de setembro, foram registradas 59 detenções arbitrárias e 41 pessoas feridas – uma delas com risco de perder um olho. Também foi reportado o uso de armas de fogo de dotação oficial, como fuzis e pistolas, contra a população.

Paralelamente, cada vez mais organizações de base e de segundo grau têm aderido às mobilizações. A mais recente foi o anúncio do Movimento Indígena de Tungurahua de se somar e iniciar ações diretas na própria província. Grêmios de aposentados também anunciaram medidas contra o governo e a Assembleia por ameaçarem as pensões.

Em certos setores da costa equatoriana, igualmente, têm ocorrido ações de luta pacífica, como a captura e julgamento de um dos líderes do transporte da província de El Oro. Já nas províncias do sul da região amazônica, iniciaram-se bloqueios de vias em Pastaza e Zamora Chinchipe.

Na capital do país também se desenvolveram protestos e manifestações contra o governo, fechando ruas em diferentes pontos da cidade principalmente no setor do centro-norte, onde se localiza o núcleo financeiro do país e da cidade.

Enquanto isso, o presidente Daniel Noboa decidiu sair de Latacunga e dirigir-se a Otavalo, principal epicentro dos confrontos entre as forças repressivas e os manifestantes. Sem uma agenda clara, chegou a Otavalo na madrugada de quarta-feira, 24 de setembro de 2025, acompanhado de um desproporcional aparato militar que incluiu helicópteros de combate, veículos blindados com armas de infantaria e até antiaéreas – um despliegue incompreensível para conter protestos sociais onde a defesa dos manifestantes se resume a paus e pedras.

No mesmo dia, após uma recepção desastrosa para sua imagem e impossibilitado de sair por via terrestre, o presidente precisou ser evacuado de helicóptero, junto com seus ministros e assessores de confiança.

A resposta do governo às mobilizações tem sido errática: de um lado, tenta aplicar medidas populistas para evitar que mais pessoas adiram ao levante; de outro, busca conter os protestos por meio de ameaças e terrorismo de Estado.

Fidel Viteri

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